segunda-feira, 26 de julho de 2010

Já falta espaço para tanta mídia

Por Nelson Hoineff

O descompasso entre o volume de informação produzida e os meios para que esse volume seja distribuído acentuou-se terrivelmente nos últimos meses. Ele foi explicitado em matéria da Folha de S.Paulo neste domingo [18/7] – "Teles se armam contra Google e Apple" – e adequadamente comentado pelo ex-ministro Juarez Quadros no mesmo jornal – "Novas mídias exigem integração e mais investimento no país".

Nada que já não viesse sendo falado há algum tempo, mas que tem um tremendo impacto sobre a construção e difusão de informação eletrônica. Para colocar de uma forma bem simples: vídeos são pesados e há cada vez mais vídeos na web. Vídeos em alta-definição são muitas vezes mais pesados e circulam também em escala muito crescente pela web. Por ali transitam desde chamadas telefônicas a games, passando por troca de arquivos, web TV, o diabo. Imagine só o consumo de banda do You Tube, para ficar em algo com que você está perfeitamente familiarizado. Quem produz ou estimula a passagem de todas essas informações? As grandes empresas de internet, como Google (que é dona do You Tube) ou Yahoo!. E por onde passa tal informação? Pelas teles: no Brasil, Telefônica, Oi, etc.

Falta de banda

A princípio, isso parece bom. As empresas de internet forçam uma demanda que leva o usuário a comprar mais banda. O problema é que, no Brasil, as teles não tem mais banda para vender. Ou por outra: a criação de mais banda implica em investimentos que não podem ser cobertos linearmente pelo aumento da demanda. Pelos números apresentados pela Folha, o break even point estaria na faixa de R$ 100 pagos às teles por usuário. Isso não chega nem perto da média praticada no país.

As teles querem, então, fisgar uma parte do lucro das empresas de internet, sob a alegação de que, sem elas – as teles –, tais companhias não teriam como fazer seus gadgets chegarem aos usuários. As empresas de internet, por sua vez, respondem diretamente ao usuário: busquem teles mais competentes.

As explosões são muito velozes e os dutos (se é que podemos chamá-los assim) ficam estreitos rapidamente. Quando um jornalão como o JB deixa o papel para ficar só na web, imagina que esse espaço seja infinito. Ele é, se colocado em face ao que é simplesmente exigido pelas informações publicadas num jornal como o JB. Mas não é, nem longinquamente, se confrontado com o que de fato circula hoje pela web.

Um quatrilhão de bytes


Lá, o buraco é mais embaixo. A discussão se dá hoje em Petabytes, o que significa mais ou menos um quatrilhão de bytes. É notável que o Faustão na web não represente uma ínfima fração desse volume – e não é porque esteja mais magro. O que está causando todo esse transtorno, ou, melhor dizendo, causando essa nova ordem, são transmissões de vídeo de toda natureza, trocas de arquivos e navegação em 3G. Mas, acima de tudo, um contingente muito diversificado de ações, classificadas simplesmente como "outros", e que estão acima até das postagens de vídeos.

A grande contradição é que evolução é inovação. Não se pode pensar na criação audiovisual, por exemplo, sem que ela esteja ligada à inovação de formas e linguagens – o que quase sempre demanda mais espaço e maior velocidade. O desenvolvimento das formas audiovisuais brasileiras – que inclui, mas nem longinquamente se limita à utilização de ferramentas como o 3D – passa pela inovação e, consequentemente, pela necessidade de mais espaço e mais agilidade na sua utilização. Temos que ser realistas: por quanto mais tempo as narrativas convencionais sobreviverão?

O usuário está indicando duas coisas: que quer se relacionar com um número muito diversificado de mídias e que precisa de espaço para isso. Alguém vai ter que pagar por esse espaço. As teles dizem que quem tem que pagar são as empresas de internet, que estimulam tanta utilização; as empresas dizem que as teles é que têm que abrir mais espaço e cobrar do usuário. E o usuário, por sua vez, tem urticária cada vez que ouve as palavras internet e pagamento na mesma frase.

Fonte: Observatório da Imprensa