E-mails para a produção, telefonemas para o locutor, votação para a melhor música, para a melhor banda, para o melhor álbum, para o melhor cantor. Escolha do participante que sai do show de televisão, animador que apresenta maior diversão em 15 segundos, a menina mais bonita, sugestão de temas, vídeos pela internet, opinião via celular. Pautas do leitor, espaço para comentário de notícias, promoções, blog de fotos on-line para compartilhamento de experiências de turismo. Isso tudo e muito mais.
São tantos os espaços para a dita participação popular nos meios de comunicação que o ouvinte, telespectador ou leitor nem sabe mais como dar conta de tanta interatividade. É esse montante de ferramentas e recursos buscados pelos programadores que está enterrando o que poderia ser um instrumento de inclusão na comunicação social.
Esse processo em nada se diferencia de outro já muito conhecido pelos estudiosos da comunicação: a proliferação demasiada de determinados espaços acaba por apagá-los por si mesmos. Pode-se considerar tal fenômeno, claramente, em relação aos outdoors. Já não há espaços de visibilidade claros dentro da maioria dos ambientes urbanos, mas sim, uma diversidade de cores, formas e mensagens que passam despercebidas e simplesmente acabam por gerar a tão conhecida poluição visual.
Novos rumos democratizadores
Vivencia-se um momento de poluição interativa, pode-se dizer. Em busca de entrar em um novo modelo de comunicação, propagado, grosso modo, como o formato que mais traz audiência atualmente, os comunicadores em geral, e principalmente as empresas de comunicação como um todo, promovem o uso da mídia como canal interativo.
Pergunta-se, no entanto, que interatividade é essa? Quem está realmente interessado em saber qual a banda mais votada da semana? Ou os sufrágios midiáticos, intrinsecamente representam alguma modificação na comercialização dos produtos culturais, servindo como pesquisa implícita sobre gostos momentâneos do público?
É preciso deixar claro que não é essa a interatividade pretendida por quem a entende como fomentadora de cidadania, no sentido de permitir a construção de uma mídia pluralista. A intensidade de reação do público em relação ao que é ofertado diretamente pelas empresas de mídia não contribui em nada para a criação de espaços plurais – ao fazer uma ligação ou enviar um e-mail para qualquer tipo de escolha, o sujeito tem postos diante de si apenas caminhos já prontos, sem possibilidades de mudar o que lhe foi ofertado, sem chances de criar novos rumos, democratizadores, para a comunicação de massa.
Do discurso à ação
Enquanto a população se acostuma a ouvir um programa de rádio interativo e a interagir com TV e jornal, seja via internet ou telefone, os canais de retorno mais comuns atualmente, entende-se que está se perdendo o verdadeiro potencial do interativo, que haveria em uma programação aberta à construção conjunta.
Pensar caminhos para que o interativo não seja mera reação é uma tarefa árdua, porém importante e de interesse público. É certo que a personalização de conteúdos será cada vez maior, tendo em vista as tendências individualistas dos tempos modernos, e isso certamente será feito pelas vias comerciais. No entanto, trabalhar conteúdos de forma que representem a expressão plural de comunidades, utilizando-os para agrupar e não individualizar os sujeitos, é um princípio que deve morar no ideal dos estudiosos brasileiros, para que a democratização da comunicação não seja apenas discurso e possa também ser ação.
*Respectivamente: Professor titular do Programa de Pós-Graduação da Unisinos, coordenador do Grupo de Pesquisa CEPOS (apoiado pela Ford Fundation) e doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela FACOM - UFBA.; mestranda em Comunicação na Unisinos e membro do Grupo CEPOS.
Fonte: Observatório da Imprensa