Por Luiz André Argemi*
A Internet está na vida de um grande número de pessoas, isso é fato. E a vida de muitas pessoas está na Internet. Em alguns casos, a grande rede é uma reprodução exata do que ocorre com estas pessoas fora do ambiente digital. Poder, timidez, segregação, fraternidade, vontade de colaborar mutuamente: tudo está ali, tão tangível como em um dia normal de trabalho ou como o encontro com aquela menina que não pára de olhar para você quando no corredor da empresa.
Em outros casos, ela soa como um refúgio, o alento de quem está “protegido” por um teclado de computador, sendo digitalmente aquilo que sempre quis ser em carne e osso, em seu convívio social. Sobram “morenaslindas32’”, “loirosfortes” e “decididos45”. São apelidos que ganham personalidade digital e interagem socialmente.
O mais intrigante nisso tudo é perceber a força que esta rede passou a ter sobre a vida de tanta gente e como, em muitos casos, este impacto reflete em relações e resultados vazios, superficiais, exatamente como aqui, fora da rede.
Luli Radfahrer, professor da Escola de Comunicação e Artes, da Universidade de São Paulo, escreveu em seu blog: “em uma transação bancária pela Internet usa-se uma máquina digital, para acessar remotamente uma agência virtual. Mas a transação e o dinheiro são reais e palpáveis. Ou pelo menos deveriam sê-lo.” Aproveitando o gancho, noto que algumas relações estabelecidas entre as pessoas em redes sociais, comunicadores como MSN ou através da troca de e-mails parecem resumir-se a algo virtual, nada mais, ao contrário do exemplo de internet banking dado por Luli. Um encontro que não se transforma em algo presencial, de contato, orgânico. Grandes amizades e um olho-no-olho transformado em código binário.
A internet não pode ser culpada pela tristeza de ninguém. Talvez aja como um catalisador para algo latente ou então manifesto em muitas pessoas. Neutra como qualquer tecnologia, assume as várias faces esculpidas pelo uso que as pessoas fazem dela. Para um tímido, poderá ser a chance de extroversão e mais-valia ou aquilo que seu Avatar puder fazer por ele. No mundo real, talvez a abastança material cumprisse esse papel e um belo carro fosse o único atrativo de um sujeito comum.
A relação entre as pessoas deve avançar as fronteiras do teclado e da tela de um computador. É preciso sair de casa, fazer contato, assim como se faz necessária uma anuência real e não virtual a nos proporcionar trocar experiências, olhares e impressões pessoais. É como já disse Aristóteles: "Eles precisam de tempo e de intimidade; como diz o ditado, não podem se conhecer sem que tenham comido juntos a quantidade necessária de sal". Não convém digitalizar o que é unicamente humano.
*Estudante de Publicidade e Propaganda da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, aluno da disciplina Iniciação ao Conhecimento Científico.