Por Rogério Christofoletti
Acho que, no Brasil, discutimos pouco o ensino de jornalismo. Acho não, tenho certeza. Prova maior é a rara bibliografia que temos sobre o assunto, a escassez de eventos que se debrucem sobre essa problemática e a quase inexistência de canais para difundir debates e ideias.
Sim, há poucos livros sobre ensino de jornalismo em particular e de comunicação em geral. E isso reflete o fato de que temos pouca gente pesquisando e pensando mais detidamente isso. Sim, exceto pelos encontros do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo e por algumas iniciativas da Intercom, quase não vemos por aí eventos que discutam pedagogias, didáticas, materiais e estratégias de ensino. Sim, também são poucas as revistas científicas que tratam de ensino. A revista Educação e Comunicação, editada pela ECA/USP desde 1994, é uma das exceções raras. A Revista Brasileira de Ensino de Jornalismo (Rebej), do FNPJ, por sua vez, não sai há anos e parece ter desaparecido antes mesmo de se tornar uma referência para a área.
Combinados, esses fatores contribuem para um preocupante marasmo no campo da Comunicação em geral e no Jornalismo em particular.
Para mudar
Para os desavisados, ingênuos e recém-chegados, a ilusão é de que está tudo bem com o ensino, e que nossas escolas são referências internacionais na formação dos profissionais. Diante da maravilha, só o paraíso.
Mas sabem professores e alunos, pesquisadores ou não, que o ensino da área carece ainda de muita discussão, de estudos aprofundados, da circulação de experiências bem sucedidas, do compartilhamento de práticas inovadoras, e da adoção de novos paradigmas que sustentem um ensino efetivo e transformador.
E como é que se convence a comunidade acadêmica a fazer isso?
Não sei. Só sei que é necessário. E urgente.
E vejo que outros países transformam a preocupação em ação. Esta semana, por exemplo, dois contundentes e relevantes textos circularam em sites norte-americanos. Seth C. Lewis se perguntou no Nieman JournalismLab, da Universidade de Harvard: "Para que servem as escolas de jornalismo?" A questão de Lewis vem do Texas, mas vai além do Canal do Panamá e se espalha por toda a parte... Da Califórnia, Dan Gillmor se arrisca em responder, apontando para o que suas notas rascunham: "O futuro do ensino de jornalismo".
É certo que as realidades brasileira e norte-americana são muito distintas, e seus sistemas de ensino mais ainda. Mas é interessante ver o que os professores de lá pensam – e como pensam – suas escolas. Aqui, as interlocuções parecem ainda muito restritas e eu gostaria que fosse diferente. Isso porque meu palpite é de que teremos um jornalismo melhor quando estivermos abastecendo o mercado de trabalho com grandes contingentes de excelentes ex-alunos. Eles é que podem mudar nossas redações e nossa mídia, não posts angustiados como este...
Fonte: Observatório da Imprensa