segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Patrimonialismo, duelo verbal e assunto proibido no Senado

10 de agosto de 2009, da Vila Setembrina, por Bruno Lima Rocha

Na peleia verbal ocorrida 2ª feira, dia 03 de agosto, entre Pedro Simon (PMDB-RS) com os senadores alagoanos Renan Calheiros (PMDB) e Fernando Collor de Mello (PTB), veio à tona um assunto velado. Em tese, as trajetórias políticas deveriam se pautar na coerência e na lealdade pessoal e doutrinária. Como a atividade-fim destes operadores não costuma ser o bem público, mas sim a sobrevivência e o aumento do poder de barganha pessoal, então a coerência é um tema explosivo. Simon lembrou ao ex-ministro da Justiça de Fernando Henrique (Renan) que ele abandonara Collor às vésperas do impedimento. Com as vísceras expostas, houve a reação irada do presidente deposto que o Supremo absolveu.


Ao sul do país chamado Brasil houve quem vibrasse pela postura de Pedro Simon diante de seus colegas de partido e do ex-caçador de marajás. Confesso que também gostei. A atitude corajosa de simplesmente falar o que pensa na frente de quem não quer ouvir demonstra que a velha raposa da política do pago ainda sabe ser orador de bombachas! Pena que é uma exceção e não a regra. Tampouco o correligionário do deputado federal Eliseu Padilha o faz com a freqüência devida. Quando o assunto é o governo de Yeda Crusius (PSDB-RS) Simon costuma ser bem menos eloqüente, o que é uma pena.


Agora, com o toque de alerta no pago, já se nota a remexida do PMDB de Simon para fora do governo da professora de economia da UFRGS. O curioso nesse vespeiro, é que, segundo o MPF e a Operação Rodin (I), todos se põem de acordo que o esquema começara por volta de junho de 2003, ou seja, no primeiro ano do governo do dentista caxiense Germano Rigotto (PMDB). Porque se acusa Yeda Rorato, Carlos Crusius e sua trupe de envolvimento e conivência e não há sombra de suspeita por sobre o governo anterior, sendo que o próprio PSDB era então vice na chapa, compondo Rigotto com o professor Antônio Holfeldt (então no PSDB). Será que não assoprará nada para os tempos do Piratini ocupado pelos correligionários de Simon? É quase certo que não, mas isso só a CPI estadual da Corrupção dirá.


Voltando ao Planalto e a polêmica sessão plenária da primeira semana de agosto, vejo o conteúdo do pugilato discursivo como um reflexo pálido do senso comum do brasileiro. Ao contrário daqueles cidadãos vinculados a currais eleitorais ou economicamente dependentes de alguma relação fisiológica ou de nepotismo, a sensação geral no Brasil é que a política é um jogo para profissionais em defesa de interesses próprios. Infelizmente esta noção está correta e gera muito ceticismo.

Explico. A idéia de carreira política entende a contínua profissionalização do representante, do detentor de mandato ou do encarregado de cargo de confiança ou função gratificada. Para deter a formação de longas carreiras profissionais, esta regra teria de implicar um revezamento obrigatório, como por exemplo, proibindo a reeleição para todo e qualquer cargo público. Digo mais, a regra deveria forçar que a cada mandato, cargo de confiança ou função gratificada, o eleito ou indicado retornasse ao seu local de trabalho e moradia. No Brasil, ocorre o oposto.


Para complicar, neste universo de poucos, quando existe renovação esta simplesmente implica em perpetuação das estruturas vigentes e interesses constituídos. Assim a política se afasta do cidadão que o delega poder e cria um espaço próprio embora custeado com o recurso coletivo. Do jeito que o ambiente se estrutura, os duelos verbais são exceções, porque as posições nunca são explícitas. Já trajetórias como a de José Sarney são expoentes e não alvos de condenação entre seus pares. Eis o patrimonialismo tupiniquim que ajuda a garantir a “governabilidade” de Lula. Daí que nada nem ninguém com pareceres de “nada-consta” por parte de senadores sem voto como Paulo Duque, chaguista de longa data do PMDB fluminense.