sexta-feira, 10 de julho de 2009

Multiprogramação na TV digital: a quem interessa?

Por José Bonifácio de Oliveira Sobrinho

Quando estava sendo discutida a criação do Sistema Brasileiro de TV Digital, houve questionamentos se as atuais emissoras deveriam receber uma banda de seis megahertz ou apenas um canal de um mega e meio. Caso a opção fosse pelo mega e meio, haveria a possibilidade da licitação de mais 12 ou 15 canais novos por praça, com a consequente democratização da televisão brasileira. As emissoras reagiram e lutaram para ter a banda de seis megas. O principal argumento era que sem isso não teríamos no Brasil transmissões terrestres em HD (high definition). Para os leigos é bom esclarecer que a banda de seis megas permite a transmissão de vários canais ou apenas um em HD. Uma outra afirmação é que o mercado publicitário não suportaria novos “players” de televisão aberta. O que aconteceu? Várias emissoras agora querem o direito de fazer multiprogramação, ou seja, exibir vários canais na banda digital que o governo concedeu para a migração da tecnologia analógica para a digital. O grave é que a maior parte das emissoras não consegue fazer um único canal, lançando mão de programas pífios para encher a grade. Não que não haja talento no Brasil, mas, certamente, porque falta planejamento estratégico a essas emissoras e porque, como as próprias emissoras alegavam no passado, não há realmente dinheiro no mercado para sustentar os custos de quatro novas programações por emissora, Algumas delas vivem com minguados lucros e outras inteiramente à beira da bancarrota. Na verdade o mercado publicitário, o que sustenta as emissoras, está exaurido. Porque, então, querem aumentar seus custos e enfrentar novos desafios de produzir mais ? Creio que é para afrontar a legislação de radiodifusão e sublocar seus horários ou mesmo canais inteiros para programas religiosos ou de venda direta de produtos. Nada contra a religião, mas tudo a favor da televisão. Entende-se que as emissoras oficiais operem multiprogramação porque elas necessitam diversificar conteúdo e além do mais não são concessionárias, são permissionárias que prestam serviços de interesse da nação. Tenho ouvido o argumento de que a Band e a Globo, como já tem outros canais abertos ou no cabo, teriam facilidade para preencher esses novos canais. E a televisão por assinatura vai se conformar com isso? E que audiência terão esses novos canais abertos? Poder-se-ia até dizer: Que se danem… ninguém vai ver mesmo. Eu até admito que possa ser assim, mas acho que o Ministério das Comunicações tem que dar um basta ao aluguel de horários e canais que, afinal, pertencem ao povo brasileiro e não aos donos de emissoras, meros concessionários desses canais que por lei deveriam ser usados para entretenimento, educação e informação. O ministro Hélio Costa que se cuide. Isso pode pôr um ponto final nas pretensões de exportar para outros países nosso modelo de televisão. Estude-se o assunto, mas com salvaguardas contra a locação e até mesmo exigindo a extinção das locações que hoje existem nos canais abertos. Somente depois de feita a limpeza é que se deixaria os mercados – de audiência e publicitário – decidirem que produtos sobreviverão.

Fonte: Blog do Boni.