Por Jacqueline Lima Dourado – jornalista e doutora em Ciências da Comunicação pela Unisinos e professora da UFPI e membro do grupo de pesquisa CEPOS.
Hoje, 23 de março às 18h, o Piauí vai contar com a televisão de alta definição ou TV digital. Este privilégio cabe a TV Cidade Verde, primeira afiliada do SBT no país a transmitir em alta definição. A primeira transmissão no Brasil data de 2 de dezembro de 2007. De lá para cá, as capitais brasileiras têm se esforçado para acompanhar a se adequar as novas tecnologias da comunicação. Teresina vai ficar bem na foto, uma vez que é a segunda capital do nordeste a ter essa tecnologia e, essa ação vai fazer parte de pesquisa do DDD e do grupo Cepos.
Nesse processo, foi no mínimo patético a matéria que saiu no domingo, no jornal O Dia, sobre a transmissão digital da afiliada da Rede Globo, TV Clube. A matéria traz a seguinte manchete: TV Clube entra na era digital. Contudo, ao lermos a matéria percebemos que no mesmo dia em que a TV Cidade Verde passa a transmitir em alta definição, o que a TV Clube vai fazer é formalizar o contrato que garantiu a compra de equipamentos e, que até o “final do ano passarão a operar em sistema digital”. É uma pena que a manchete não tenha correspondido ao processo histórico.
Essa demanda pela digitalização no país vem sendo tema de pesquisas por parte da academia. Um deles é o Observatório da Digitalização Democracia e Diversidade, DDD, que vem acompanhando em todo o país e em alguns países através de pesquisas onde a temática os novos desafios do capitalismo global impõe um novo olhar sobre a economia e a política que permeiam a comunicação. O grupo CEPOS (Grupo de Pesquisa Comunicação, Economia Política e Sociedade) do qual faço parte junto com o DDD, atua desde 2002 no Brasil, tem como objetivo fomentar o debate das mídias audiovisuais, sua implantação na sociedade, políticas, estratégias, incorporações e possibilidades contra-hegemônicas. O grupo atua por meio do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação (PPG-CC) da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Embora tenha pesquisadores espalhados por vários estados, como o Piauí e em outros países como África, Espanha e Portugal.
O grupo tem como objetivo estudar a comunicação contemporânea, focada nos processos midiáticos, e sua inserção na sociedade capitalista. Logo, esse processo de digitalização das transmissões de televisão no Brasil tem sido o grande foco de observações. Um dos grandes projetos do grupo liderado pelo professor Valério Cruz Brittos é o que estuda a transição entre o sistema analógico e o digital de distribuição dos sinais de vídeo e áudio do serviço de televisão terrestre no Brasil. O Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (SBTVDT) é um dos procedimentos de mudança que prevê as alternativas sobre padrões de compressão, modulação, transporte, aplicações e recepção de sinais. O que se estuda também é que pelo processo de interatividade elementar ou interatividade dialógica serão criados os novos produtos que farão parte dessa multiplicidade de ofertas de produtos.
Tanto para a TV Cidade Verde, como para os anunciantes de uma forma geral e para o Estado, a televisão de alta definição vai oferecer novos modelos de negócios e serviços. Vai requerer também, uma reorganização do setor em relação à sociedade delimitando os novos papéis do Estado e do setor e as mudanças que ocorrerão na produção cultural e no discurso social.
Por conta disso, as pesquisas, já em andamento, do grupo Cepos tem como eixo norteador: economia política da comunicação; políticas de comunicação; processos midiáticos; tecnologias de comunicação; processos e estratégias midiáticas; audiovisual; comunicação e espaço público; culturas das mídias e sociedade; companhias midiáticas, produtos e mercados; televisão; convergência; cinema; história da comunicação; comunicação organizacional; publicidade e marketing; comunicação e desenvolvimento.
Segundo Valério Brittos, “a pesquisa no primeiro ano serviu para ajustar a articulação das equipes e instituições envolvidas, iniciando o levantamento que permitiu conhecer o estado da arte da TV digital no Brasil, depois foi feito todo um processo de onde o foco principal tem sido as análises do material coletado e descrição das experiências de interatividade e monitoramento dos impactos, ante o avanço do processo de implantação da TV digital aberta, em seguida a consolidação dos resultados e levantamentos complementares e testes finais, além do acompanhamento à finalização de teses e dissertações dos bolsistas envolvidos no projeto e as publicações.”
Tudo isso para dizer e defender que a história nos oferece os elementos para que a academia não perca o bonde da história, e também avance pari passo ante as disputas entre as corporações midiáticas e as práticas comunicacionais no âmbito das diversas organizações