Por Paula Russo
Supondo que exista um plano divino e, que deste, possa se contemplar o mundo dos vivos, Sartre possivelmente está em surto permanente, tamanha foram as mudanças que ocorreram de lá para cá, no que tange ao intelectualismo e, mais propriamente, aos intelectuais deste novo século.
Kellner apresenta-nos o dever do intelectual, nas palavras de Jean-Paul, qual seja, “denunciar a injustiça onde quer que ela se encontre”. Isso, lá pelos idos de 1974, quando a metade do mundo ainda estava lutando pela democracia, época de grandes manifestações – ainda que, muitas vezes – camufladas e banidas pelos regimes totalitários.
Trazendo à realidade brasileira, muitos foram os que perderam a vida por expor às chagas da sociedade em tempos de vigilância militar. Intelectuais ou não, emprestaram sua voz para que a sociedade e o mundo tivessem a mínima noção do que acontecia ao seu redor.
O Movimento Diretas Já proporcionou o escalonamento de profissionais de todas às áreas, sobretudo intelectuais e a classe artística, para a convergência do fim do golpe militar e do rastro de sangue que singrava há anos. Com a “democracia”, outras manifestações vieram, talvez a de maior porte tenha sido o do By Collor, onde a mídia nos fez crer que foram os caras pintadas que levaram o então presidente a retirar-se do poder.
O Movimento Diretas Já proporcionou o escalonamento de profissionais de todas às áreas, sobretudo intelectuais e a classe artística, para a convergência do fim do golpe militar e do rastro de sangue que singrava há anos. Com a “democracia”, outras manifestações vieram, talvez a de maior porte tenha sido o do By Collor, onde a mídia nos fez crer que foram os caras pintadas que levaram o então presidente a retirar-se do poder.
Esses breves parágrafos me levam a perguntar: quem são os intelectuais de hoje? Onde estão e qual o contexto de seus trabalhos? Sem pestanejar, diria que essa casta virou “lenda urbana” ou que, na minha visão, estão encastelados em suas salas universitárias ou institutos de pesquisa, ladeados por infinita tecnologia e dinheiro público – o meu, o seu, o nosso -, escrevendo maravilhas aos seus pares.
É uma percepção apocalíptica para alguns, mas sei que muitos comungam com minha tese de “encastelamento intelectual”. Com a exigência quase que febril da obrigatoriedade de formar pelotões de mestrandos e doutorandos, o hedonismo deste grupo só aumentou. Percebo, dessa forma, que nos encontramos num perfeito estado de Mundo de Alice, onde quase nada tem lógica e as motivações são tão rasas como uma xícara de chá.
Dia desses – dentro da elite acadêmica – um “intelectual” sentenciou: “não me queiram em suas bancas, pois vou destruí-los”. Há muito tempo atrás, a mesma pessoa disse que não se permitia dar nota 10 aos alunos, para que os mesmos não se empolgassem com suas elucubrações. Data vênia! Qual seria mesmo o segundo dever do intelectual, senão o de pulverizar o conhecimento, ao invés de, jocosamente, demonstrar seu “empoderamento”?
À guisa de exemplo, muito pouco do que é produzido na área da comunicação chega ao seu receptor, diferentemente do que acontece na medicina. Talvez, isso tenha a ver com a falta de percepção em saber o que é, de fato, Comunicação Social. Alguns grupos de estudiosos preocupam-se muito mais com a semântica, ao invés do conteúdo, fator que não leva a lugar nenhum. Notadamente, mais uma vez, o conhecimento é pautado por uma hierarquia Olimpiana, incapaz de perceber sua socialização e direcionamento.
Douglas Kellner indica que o caminho natural do intelectualismo é a ocupação do espaço midiático e a absorção de suas ferramentas, ou seja, ocupar este campo para que o mesmo possa ser utilizado como ferramenta propulsora ao maior número de destinatários em prol da sua qualidade de vida. No entanto, o autor lembra:
“Não deveríamos esquecer, no entanto, da miséria que se encontra a maioria dos homens e deveríamos lutar para que esses indivíduos possam ter as mesmas oportunidades que os mais afortunados”. (KELLNER, 1995)
Assim como ao autor, preocupa-me a idéia da ocupação deste espaço com um “ranço academicista”, ou seja, utilizar o meio, enquanto veículo, e tornar o discurso alcançável a qualquer indivíduo, utilizando uma linguagem que possa ser compreendida por todos e não somente para aqueles que dominam as teorias de determinado saber.
Indo mais além, digo que o intelectual de Sartre já não existe mais, seja por seus ideais, seja por sua postura e a quem serve. Mas temos um outro tipo de intelectual, que, embora sem o saber culto, consegue mastigar a informação e devolvê-la à população, mobilizando indivíduos na melhoria de sua qualidade de vida e da comunidade à qual está inserida. As ONGs são um ótimo exemplo disso, como a CUFA (Central Única das Favelas), que agrega comunidades do Brasil inteiro, sob forma de associações.
Há também, um outro modelo de intelectual que ocupa a mídia todos os dias e que se aproxima do indivíduo com mais sabedoria do que qualquer intelectual. Você até pode contestar, achar que é de qualidade duvidosa, que a fala é chula ao extremo. Tudo bem! Só não pode ignorar que uma Hebe Camargo ou uma Ana Maria Braga são mais compreendidas que o ex-presidente e intelectual Fernando Henrique Cardoso. É a modernidade dos tempos, ocupada pelo saber popular, mas que cumpre seu papel de interlocutora da realidade. A vida como ela é.
É uma percepção apocalíptica para alguns, mas sei que muitos comungam com minha tese de “encastelamento intelectual”. Com a exigência quase que febril da obrigatoriedade de formar pelotões de mestrandos e doutorandos, o hedonismo deste grupo só aumentou. Percebo, dessa forma, que nos encontramos num perfeito estado de Mundo de Alice, onde quase nada tem lógica e as motivações são tão rasas como uma xícara de chá.
Dia desses – dentro da elite acadêmica – um “intelectual” sentenciou: “não me queiram em suas bancas, pois vou destruí-los”. Há muito tempo atrás, a mesma pessoa disse que não se permitia dar nota 10 aos alunos, para que os mesmos não se empolgassem com suas elucubrações. Data vênia! Qual seria mesmo o segundo dever do intelectual, senão o de pulverizar o conhecimento, ao invés de, jocosamente, demonstrar seu “empoderamento”?
À guisa de exemplo, muito pouco do que é produzido na área da comunicação chega ao seu receptor, diferentemente do que acontece na medicina. Talvez, isso tenha a ver com a falta de percepção em saber o que é, de fato, Comunicação Social. Alguns grupos de estudiosos preocupam-se muito mais com a semântica, ao invés do conteúdo, fator que não leva a lugar nenhum. Notadamente, mais uma vez, o conhecimento é pautado por uma hierarquia Olimpiana, incapaz de perceber sua socialização e direcionamento.
Douglas Kellner indica que o caminho natural do intelectualismo é a ocupação do espaço midiático e a absorção de suas ferramentas, ou seja, ocupar este campo para que o mesmo possa ser utilizado como ferramenta propulsora ao maior número de destinatários em prol da sua qualidade de vida. No entanto, o autor lembra:
“Não deveríamos esquecer, no entanto, da miséria que se encontra a maioria dos homens e deveríamos lutar para que esses indivíduos possam ter as mesmas oportunidades que os mais afortunados”. (KELLNER, 1995)
Assim como ao autor, preocupa-me a idéia da ocupação deste espaço com um “ranço academicista”, ou seja, utilizar o meio, enquanto veículo, e tornar o discurso alcançável a qualquer indivíduo, utilizando uma linguagem que possa ser compreendida por todos e não somente para aqueles que dominam as teorias de determinado saber.
Indo mais além, digo que o intelectual de Sartre já não existe mais, seja por seus ideais, seja por sua postura e a quem serve. Mas temos um outro tipo de intelectual, que, embora sem o saber culto, consegue mastigar a informação e devolvê-la à população, mobilizando indivíduos na melhoria de sua qualidade de vida e da comunidade à qual está inserida. As ONGs são um ótimo exemplo disso, como a CUFA (Central Única das Favelas), que agrega comunidades do Brasil inteiro, sob forma de associações.
Há também, um outro modelo de intelectual que ocupa a mídia todos os dias e que se aproxima do indivíduo com mais sabedoria do que qualquer intelectual. Você até pode contestar, achar que é de qualidade duvidosa, que a fala é chula ao extremo. Tudo bem! Só não pode ignorar que uma Hebe Camargo ou uma Ana Maria Braga são mais compreendidas que o ex-presidente e intelectual Fernando Henrique Cardoso. É a modernidade dos tempos, ocupada pelo saber popular, mas que cumpre seu papel de interlocutora da realidade. A vida como ela é.