Bruno Lima Rocha
04 de janeiro de 2008
O Estado de Israel iniciou uma ousada tentativa de erradicar qualquer chance de autodeterminação na Faixa de Gaza. Este Território Ocupado em 1967 foi autonomizado de uma dilacerada Autoridade Nacional Palestina (ANP) pouco depois da vitória do Hamas nas eleições gerais de 2006. Para compreender as operações militares do Estado sionista, elenco três fatores como fundamentais: - um deles passa pelo calendário eleitoral israelense – quando a disputa se dá em um jogo de cartas marcadas, com dois ex-primeiros ministros na corrida (Barak e Netanyahu); - outro pela possibilidade de atacar a população palestina justo no intervalo do governo dos EUA – Bush Jr saindo e apoiando as medidas de força e Obama mudo até assumir; - o mais sinistro de todos, existe uma grau de realidade na teoria conspiratória que aproxima o atual presidente (ilegítimo) da ANP Mahmoud Abbas da política externa israelense.
Não que o gabinete de Abbas seja o responsável pelo Holocausto promovido pelas armas de Israel (financiadas com verba dos EUA), mas no mínimo peca por duas vezes: - na repressão interna à resistência palestina (em especial aos grupos de esquerda); - por ter se apresentado como um parceiro confiável dos líderes árabes traidores, tais como o presidente do Egito Hosni Mubarak, o rei da Jordânia Abdullah II e o monarca saudita Abdullah bin Abdel Aziz.
Mais preocupado com sua hegemonia interna – cada vez mais cambaleante – o herdeiro do partido de Yasser Arafat mostrou-se como o homem a ser elogiado pela administração Bush Jr./Cheney; pelos sucessivos gabinetes sionistas e pela aliança explícita entre as companhias gigantes do petróleo e os governantes árabes. Por outro lado, O Movimento de Resistência Islâmica (Hamas, integrista de credo sunita) rompeu com a Fatah – historicamente o partido majoritário, dividido em muitas facções e sob eterna acusação e suspeita de corrupção e ganhou nas urnas. Ganhou mas não levou, tomando Gaza e perdendo a Cisjordânia para uma autoridade que não se sustenta mais a não ser nas costas do apoio de suspeitíssimos regimes árabes.
A urgência de Ehud Olmert em liberar o ataque justifica também no constrangimento proporcionado à nova administração estadunidense que está por assumir. O vazio de poder temporário (pela reprovação popular de Bush Jr.) e o período eleitoral se aproximando são a mescla ideal para promover uma operação militar que fede a genocídio programado. Já ultrapassavam a 400 o número de palestinos mortos pelos bombardeios “cirúrgicos” de Israel. Isso antes de começar a invasão por terra. A meta do Estado que nascera do pacto entre a Haganah-Palmach, a Stern e a Irgun é, em tese, eliminar a alternativa integrista palestina. Este argumento é falso. Se e caso o Hamas vier a ser desestruturado em Gaza, perdendo sua capacidade de governo e de ação militar, entendo ser uma ilusão supor que a facção da Fatah ainda ligada a Abbas será a alternativa naquele território. Na ausência do autoritarismo da organização político-militar-religiosa Hamas, não haverá autoridade legítima que se construa com a ajuda do invasor sionista. A meta de Israel não é o fim do integrismo suni, mas simplesmente a ingovernabilidade de Gaza. E, caso o Hamas consiga um empate com vitória política, como o feito do Hizbullah em julho de 2006, aí estará pavimentado o caminho para a vitória na interna da política palestina.
A lucidez que veio da esquerda
No meio do caos instalado quando a Fatah começou a reprimir utilizando-se da ANP, situação caótica esta que se aprofunda nos enfrentamento entre Hamas e a facção de Abbas – culminando com o golpe da ala governista da Fatah – a proposta mais lúcida veio da esquerda do nacionalismo árabe. Em manifesto assinado pela: Frente Democrática pela Libertação da Palestina (FDLP); Frente Popular pela Libertação da Palestina (PFLP) e o Partido do Povo Palestino (PPP), as três históricas forças de esquerda clamam por uma unidade de combate, apoio logístico contra o invasor e reconstrução das estruturas de base em meio dos combates casa por casa. Se há um acúmulo de experiência nos anos de combate entre as forças de ocupação de Israel e a resistência árabe, tudo nos leva a crer que essa ocupação terrestre pode se tornar o início da 3ª Intifada. O que está em jogo é saber se esta resistência será levada a cabo apenas pelo autoritarismo integrista ou pelo conjunto das forças palestinas.
Estratégia & Análise
Para assistir a Al-Jazeera em tempo real em inglês
04 de janeiro de 2008
O Estado de Israel iniciou uma ousada tentativa de erradicar qualquer chance de autodeterminação na Faixa de Gaza. Este Território Ocupado em 1967 foi autonomizado de uma dilacerada Autoridade Nacional Palestina (ANP) pouco depois da vitória do Hamas nas eleições gerais de 2006. Para compreender as operações militares do Estado sionista, elenco três fatores como fundamentais: - um deles passa pelo calendário eleitoral israelense – quando a disputa se dá em um jogo de cartas marcadas, com dois ex-primeiros ministros na corrida (Barak e Netanyahu); - outro pela possibilidade de atacar a população palestina justo no intervalo do governo dos EUA – Bush Jr saindo e apoiando as medidas de força e Obama mudo até assumir; - o mais sinistro de todos, existe uma grau de realidade na teoria conspiratória que aproxima o atual presidente (ilegítimo) da ANP Mahmoud Abbas da política externa israelense.
Não que o gabinete de Abbas seja o responsável pelo Holocausto promovido pelas armas de Israel (financiadas com verba dos EUA), mas no mínimo peca por duas vezes: - na repressão interna à resistência palestina (em especial aos grupos de esquerda); - por ter se apresentado como um parceiro confiável dos líderes árabes traidores, tais como o presidente do Egito Hosni Mubarak, o rei da Jordânia Abdullah II e o monarca saudita Abdullah bin Abdel Aziz.
Mais preocupado com sua hegemonia interna – cada vez mais cambaleante – o herdeiro do partido de Yasser Arafat mostrou-se como o homem a ser elogiado pela administração Bush Jr./Cheney; pelos sucessivos gabinetes sionistas e pela aliança explícita entre as companhias gigantes do petróleo e os governantes árabes. Por outro lado, O Movimento de Resistência Islâmica (Hamas, integrista de credo sunita) rompeu com a Fatah – historicamente o partido majoritário, dividido em muitas facções e sob eterna acusação e suspeita de corrupção e ganhou nas urnas. Ganhou mas não levou, tomando Gaza e perdendo a Cisjordânia para uma autoridade que não se sustenta mais a não ser nas costas do apoio de suspeitíssimos regimes árabes.
A urgência de Ehud Olmert em liberar o ataque justifica também no constrangimento proporcionado à nova administração estadunidense que está por assumir. O vazio de poder temporário (pela reprovação popular de Bush Jr.) e o período eleitoral se aproximando são a mescla ideal para promover uma operação militar que fede a genocídio programado. Já ultrapassavam a 400 o número de palestinos mortos pelos bombardeios “cirúrgicos” de Israel. Isso antes de começar a invasão por terra. A meta do Estado que nascera do pacto entre a Haganah-Palmach, a Stern e a Irgun é, em tese, eliminar a alternativa integrista palestina. Este argumento é falso. Se e caso o Hamas vier a ser desestruturado em Gaza, perdendo sua capacidade de governo e de ação militar, entendo ser uma ilusão supor que a facção da Fatah ainda ligada a Abbas será a alternativa naquele território. Na ausência do autoritarismo da organização político-militar-religiosa Hamas, não haverá autoridade legítima que se construa com a ajuda do invasor sionista. A meta de Israel não é o fim do integrismo suni, mas simplesmente a ingovernabilidade de Gaza. E, caso o Hamas consiga um empate com vitória política, como o feito do Hizbullah em julho de 2006, aí estará pavimentado o caminho para a vitória na interna da política palestina.
A lucidez que veio da esquerda
No meio do caos instalado quando a Fatah começou a reprimir utilizando-se da ANP, situação caótica esta que se aprofunda nos enfrentamento entre Hamas e a facção de Abbas – culminando com o golpe da ala governista da Fatah – a proposta mais lúcida veio da esquerda do nacionalismo árabe. Em manifesto assinado pela: Frente Democrática pela Libertação da Palestina (FDLP); Frente Popular pela Libertação da Palestina (PFLP) e o Partido do Povo Palestino (PPP), as três históricas forças de esquerda clamam por uma unidade de combate, apoio logístico contra o invasor e reconstrução das estruturas de base em meio dos combates casa por casa. Se há um acúmulo de experiência nos anos de combate entre as forças de ocupação de Israel e a resistência árabe, tudo nos leva a crer que essa ocupação terrestre pode se tornar o início da 3ª Intifada. O que está em jogo é saber se esta resistência será levada a cabo apenas pelo autoritarismo integrista ou pelo conjunto das forças palestinas.
Estratégia & Análise
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