sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Tv aberta: Sem compromisso com a cidadania

Por Luis Fernando Manassi Mendez

Até que ponto Brasil evoluiu, socialmente, com a televisão aberta? Será que, de fato, a televisão aberta fornece as bases para a formação cívica da nação? Tomemos um exemplo tradicional e primário. Domingo, dia da família estar reunida em frente à TV. A programação, nas telinhas, se torna evidente, com programas demasiadamente monótonos. A televisão aberta, no Brasil, carece de mudanças.

Este artigo, aparentemente, é unilateral – trata somente da qualidade da TV aberta, e não das emissoras fechadas. O ângulo, entretanto, proposto aqui, é outro. O tema deste artigo leva a supor o grande público, as massas e seu acesso ilimitado à informação, diferentemente de um público específico, que adere à televisão paga. Ao falarmos em jornalismo e televisão, se tornam relevantes temas como acesso do grande público, por isso a razão de tratar o tema da TV aberta.

As programações óbvias – “atrações” repentinas e, muitas vezes, sem conteúdo, são comuns em certas programações da TV aberta. Se fôssemos fazer uma relação da grade de suas programações, é praticamente insignificante a preocupação de certas emissoras em tornar o espectador crítico. Aos domingos, por exemplo, a programação da TV aberta reduz-se a programas de auditório – explorando, muitas vezes, as pessoas – a plateia e o próprio espectador.

Um consultório “particular”

De segunda a sábado, a predominância das novelas é insuperável. É uma prática midiática inevitável. Todavia, as novelas não têm o costume – infelizmente – de instruir o cidadão sobre temas pouco debatidos. Elas debatem temas atuais, deixando, de lado, assuntos sem aparente “notoriedade” pública. Durante três anos, a mídia televisiva usou, como tema principal, a gravidez na adolescência. Sim, é um fator social que deve ser salientado como forma de conscientização social. Contudo, há temas, além deste, que têm proporções significativas de importância social que, contudo, se tornaram esquecidos na mídia televisiva. Exemplo? Temas filosóficos, aparentemente primários, são midiaticamente inexploráveis. Questões relacionadas a sentimentos, desejos e ao nosso cotidiano são imperceptíveis em novelas. O que motiva um jovem a ser pai e engravidar sua companheira? O calor do momento, em uma relação, contrasta com o arrependimento de casais jovens em ter filhos, quando ambos abandonam, muitas vezes, seus estudos. O que é o desejo em ambas as circunstâncias?

Referente à programação aberta, acredito que ela deve ser repensada. Há uma série de fatores que contribuem para a alienação do grande público. É evidente, neste caso, a forma como o público é tratado, muitas vezes de forma ingênua. Certos programas humorísticos abusam do bom senso do espectador – diálogos ensurdecedores dos personagens aliados a cenas patéticas decepcionam a qualidade humorística, ao invés de alegrar; casos policiais e familiares são temas rotineiros nas telas, fazendo da televisão um consultório “particular” para o grande público.

Grade de programação

Sem citar emissoras específicas, posso constatar, em algumas, o desinteresse com o conteúdo para a formação crítica do cidadão. Programas que estimulam a formação de um público paparazzi são, infelizmente, rotineiros. Quem não tem acesso alternativo para uma formação de opinião mais ampla, acaba ficando sem saída.

A Federação Nacional dos Jornalistas deveria declarar, em seu estatuto, a obrigatoriedade de uma programação diária dinâmica, aberta à formação de opinião, em horário acessível ao grande público, em um tempo mínimo a ser estabelecido. Programas debatedores podem parecer, à primeira vista, cansativos. Entretanto, a formação diária da cidadania, passa, primeiramente, pela imprensa.

O problema da televisão não é sua principal característica – resumir fatos – mas sim, a forma como a programação, na TV aberta, está apresentada.

Fonte: Observatório da Imprensa